Durante 5 dias a cidade de Mendoza na Argentina recebeu o primeiro torneio “Handball SCA Menores e Cadetes”; e teve Chile, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai entre seus participantes. Este último país surpreendeu não só por seus bons resultados, mas por aqueles que estavam atrás: o corpo técnico formado em sua maioria por mulheres.
“Nós chegávamos aos jogos e todo mundo nos olhava, desde os jogadores, juízes, diretores técnicos até os delegados”, comenta Carolina Aguirre, a Head Coach e mais experiente deste histórico plantel que se conforma por 5 mulheres e 2 homens, um grupo que ela define como heterogêneo, já que é “intergeracional, com presença feminina e com pessoas de diferentes zonas do país”.
Para Aguirre, ditas qualidades eram essenciais para comandar as categorias inferiores do Uruguai dado que é o momento onde os futuros talentos se formam e forjam o caráter que os seguirá até as categorias maiores. Por isso, junto ao trabalho de Alejandro “Tití” Trejo e Nicolás Guerra, é que convidaram a participar Fiorella Guedes, Carolina Ferreira e Daiana López, todas professoras com vasta experiência no handball do interior, mas que pela primeira vez chegariam ao comando de selecções nacionais.
“Apanhou-me de surpresa, fiquei muito entusiasmado e não caí! Aquilo que uma vez sonhei estava se tornando realidade”, conta a nortenha Carolina Ferreira quando recebeu o chamado a ser parte do selecionado nacional. “Representar o Uruguai é um grande compromisso e privilégio e tentamos fazer o melhor possível”, acrescentou a jovem DT de Handball Tacuarembó.
Para Fiorella Guedes, companheira de Ferreira no clube nortenho há mais de 5 anos, este chamado a fazer parte deste histórico corpo técnico foi uma surpresa, mas ao mesmo tempo, uma oportunidade para que esta disciplina continue se desenvolvendo no interior e assim contribuir “a que o crescimento do handball seja mais igual no país”.
Assim, um dos objetivos foi cumprido, e não apenas no corpo técnico, mas também no plantel, já que vários meninos puderam fazer parte do selecionado uruguaio vindo do interior do país.
Outro dos objetivos deste corpo técnico é dar-lhes um correto e saudável desenvolvimento esportivo e pessoal aos selecionados e selecionados do país, através de um ensino com ideologia de gênero.
“A idéia é dar a visão feminina, em especial no trabalho com homens, já que fundamental trabalhar uma masculinidade saudável no esporte que lhes permita expressar suas emoções” comenta o Head Coach deste grupo feminino que há muito tempo vem trabalhando estas temáticas nas seleções masculinas do Uruguai.
Quem concorda com isso é Daiana López, a jovem DT do Movimento Handball 33, já que “não só cria muito aprendizado a nível profissional, mas cria valores para todo o grupo”, o que é fundamental para a formação de jogadores integrais.
Um exemplo para a região
Apesar de ser a primeira vez dirigindo para muitas, este inovador corpo técnico levou as seleções masculinas do Uruguai a obter o 4° lugar na categoria sub14 e o 3° lugar na Sub16. Estes resultados vêm confirmar o trabalho prévio realizado pelo grupo e pela Federação Uruguaia.
“Cada triunfo que tivemos o vivemos muito intensamente desde o coração e não há palavras para expressá-lo”, conta López com emoção. “As derrotas e não ter podido ficar em segundo lugar por diferença de gols foi algo incrível também, porque nos fez perceber que estamos ainda mais fortes do que chegamos”, acrescentou.
No entanto, para estas diretoras técnicas estas conquistas esportivas não são as únicas que marcam esta participação, já que foi uma constante aprendizagem profissional e pessoal onde “conseguiram muito mais coisas que enaltecem o handball nacional”.
Assim, o Uruguai e este corpo técnico se convertem em pioneiros na região e demonstram que é possível dar maiores espaços às mulheres no esporte obtendo bons resultados em termos de competência e de desenvolvimento pessoal.
Fotos: FUH